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"Você, imperialista" (???!)

  • Foto do escritor: Remo Bastos
    Remo Bastos
  • 11 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de nov. de 2024






Compartilho trecho de provocativa resenha (escrita por Breno Castro Alves) de um impactante livro, o qual recomendo efusivamente.

“Imagine os corredores de seu mercado favorito. Lá vai você, caminhando entre todas as embalagens coloridas que o capitalismo consegue apresentar, o carrinho cheio de víveres de sabe-se lá onde, então encontra o iogurte/castanha/cerveja especial que você procurava e junto com ele encontra a sensação de missão cumprida: mais um dia de barriga cheia.


Consegue imaginar a cena, a liberdade do consumo? Então você é minoria entre os brasileiros. Diz a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional que mais da metade de nosso país passa fome e não pode escolher tudo que comerá.

Certo, é terrível mesmo, mas o que isso tem a ver com meu iogurte especial?, perguntará o leitor mais desatento. Pois os sociólogos Ulrich Brand e Markus Wissen vieram com este Modo de vida imperial: sobre a exploração de seres humanos e da natureza no capitalismo global provar que uma dinâmica produz a outra.


A obra demonstra como a vida cotidiana nos centros capitalistas só é possível a partir da externalização dos custos sociais e ambientais para a periferia do sistema. Os autores são europeus, professores e pesquisadores em Viena e Berlim; estão portanto em posição estratégica para descrever o acúmulo de privilégios no centro e os (distantes) impactos que o colapso da periferia provoca nas metrópoles.


“Nosso intuito é expor os mecanismos que normalizam as relações de força e dominação inerentes a essas estruturas. (...) Este livro se propõe a apontar um conjunto de problemas que, até hoje, têm dificultado uma transformação socioecológica emancipatória.”

Malditos pagãos


Vivemos um momento em que saiu de moda o imperialismo armado, baseado em ostensiva ocupação militar, para a ascensão do imperialismo de mercado, que segue submetendo o Sul global. Sua formação remete à esperança universalista-imperialista que nasceu em Roma e nunca desapareceu da Europa.


Aspirar a uma ordem mundial universal cristã, seja católica ou protestante não importaria, ambas veem a diversidade das sociedades pagãs como incapaz de estabelecer uma ordem moral para este mundo, argumenta a socióloga Camila Moreno no prefácio de Modo de vida imperial. A dominação imperial seria então natural, como Deus quis.


E ao fazê-lo concentram em seus territórios os recursos expropriados. As uvas chilenas oferecidas em cafeterias norueguesas durante o inverno; os tomates plantados pelos trabalhadores não legalizados na Andaluzia, na Espanha, para o mercado europeu, ou, ainda, os camarões servidos às mesas do Norte global produzidos à custa da destruição dos manguezais na Tailândia e no Equador.


Os autores se perguntam quão grave seria a crise de 2007 se os europeus não tivessem alimentos baratos em seus supermercados, comida cultivada por agricultores envenenados e sem aposentadoria, plantando em países onde não neva no inverno e que possuem moeda desvalorizada em relação ao euro.


Soa familiar? Eis o Brasil. Evidente a relação de exploração centro/periferia se repete em nosso país. O que é o modo de vida imperial senão a estabilização artificial de poucos centros escolhidos em detrimento e às expensas das periferias?


“O modo de vida imperial é um conceito provocativo para que o leitor reflita sobre como se produz e reproduz o nosso modo de vida, materializado no que comemos, o que vestimos, como nos transportamos. Para além de preocupações de “consumo consciente”, oferece a possibilidade de pensarmos sobre todos os hábitos cotidianos e sua repetição irrefletida, uma forma de ser e de estar no mundo transmitida como ideal universal, mas que foi construída e se mantém sobre padrões insustentáveis. (Camila Moreno, no Prefácio do livro)


SOBRE OS AUTORES

"Ulrich Brand e Markus Wissen [são cientistas sociais e] lecionam e conduzem suas pesquisas na Universidade de Viena e na Escola de Economia e Direito de Berlim, respectivamente. Além disso, trabalham juntos em projetos acadêmicos e políticos desde a década de 1990, incluindo a Bundeskoordination Internationalismus [Coordenação federal de internacionalismo] (Buko), a Assoziation für kritische Gesellschaftsforschung [Associação para pesquisa de crítica social] (AkG) e a Fundação Rosa Luxemburgo. De 2008 a 2012, ambos atuaram no Departamento de Ciência Política da Universidade de Viena.


Em Berlim e Viena, preferem andar de bicicleta e entendem isso como uma crítica prática da forma de locomoção imperial e antiquada conhecida como automobilidade. Markus Wissen é editor da revista de ciências sociais críticas Prokla e codiretor do Instituto de Economia Política Internacional da Escola de Economia e Direito de Berlim. Ulrich Brand é coeditor da revista de política alemã e internacional Blätter für deutsche und internationale Politik e foi membro, entre 2011 e 2013, da comissão de trabalho do Parlamento alemão que debateu metas de crescimento econômico, prosperidade e qualidade de vida. Ambos cooperam com o grupo de pesquisa sobre sociedades pós-crescimento da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha."


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©2020 por Remo Bastos.

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